Recebemos
hoje um e-mail de um leitor sugerindo o texto abaixo, a respeito da matéria do
Toddynho com soda cáustica.
Como
a finalidade desse blog é alertar e esclarecer, julgamos interessante chamar a
atenção de nossos leitores para o artigo sugerido, porque, salvo o fato de o
articulista estar defendendo a sua categoria (engenheiro de alimentos) - e
estar desempregado (esperemos que por pouco tempo), concordamos com o que ele
diz, e mantemos nossa posição:
-
nunca aceitar substituição do alimento "com cocô" (estragado etc),
mas botar a boca no trombone, isto é, denunciar: à polícia, às redes sociais,
aos amigos etc.
-
que a indústria de alimentos não pode ter falhas e, se o que aconteceu com o
Toddynho é isso mesmo que diz o artigo, isso só corrobora a nossa birra: que
eles não podem deixar de ter controle total e absoluto sobre todos os
processos, desde os fornecedores até os distribuidores, incluindo aí, é claro,
treinamento e fiscalização dos funcionários, para evitar "falhas
humanas", que é sempre uma boa desculpa - se o funcionário
"falha" é porque houve alguma falha no processo de industrialização -
de gerência, de fiscalização, dos recursos humanos etc., não importa, é
problema da indústria. O consumidor não tem nada com isso, não pode pagar por
isso.
Então,
leia o artigo. É esclarecedor:
RECENTES
CASOS DE BEBIDAS CONTENDO SODA CÁUSTICA
18
de março de 2013
Fonte:
O
post de hoje vai ser um bem diferente do usual do blog. Se vocês estão
esperando o esclarecimento de algum mito ou boato sobre alimentos, aguardem até
a próxima publicação.
Recentemente,
tivemos alguns casos na mídia de bebidas que foram envasadas com soluções de
limpeza contendo NaOH (soda cáustica) e outros produtos danosos à saúde.
Os
mais famosos foram o caso do Toddynho:
e do Ades
Esses
casos assustaram bastante principalmente pelo principal público-alvo dos dois
produtos: crianças (Toddynho) e idosos (Ades). Fiquem tranquilos que dessa
vez o comentário não será favorável às empresas, muito pelo contrário. Só vou
esclarecer primeiro as principais causas da contaminação para depois expressar
meu manifesto sobre o assunto:
O
fato é que o NaOH não é utilizado como ingrediente, aditivo ou coadjuvante
na produção das bebidas citadas (se é que o seja para algum alimento em
absoluto*). Diferentemente do que vi em alguns comentários por aí, essas
indústrias não utilizam o composto para evitar a formação de natas no produto
nem como antimicrobiano ou conservante, já que seu uso para esses fins não
é permitido pela Anvisa. A soda cáustica é, na verdade, muito empregada
(por seu baixo custo e alta eficiência) como um dos agentes nas soluções
de limpeza das linhas de envase, agindo principalmente para remover certas
substâncias que não são solúveis em água, como lipídeos.
No
caso das grandes empresas (que com certeza incluem a PepsiCo e a Unilever –
produtoras do Toddynho e do Ades, respectivamente) costuma-se utilizar um
sistema de limpeza chamado CIP – “cleaning in place”. Simplificando, o
método funciona mais ou menos assim: corta-se a alimentação dos ingredientes, que
é substituída por diversas soluções de limpeza e desinfecção (ácidos, bases,
clorados, etc), mantendo as linhas de produção e envase funcionando
normalmente, e descartando-se o resultado. Dessa forma, tem-se uma limpeza
contínua, rápida e prática, já que podemos limpar diversos equipamentos
(tubulações, válvulas, trocadores de calor, bombas, etc) sem a necessidade de
desmontar toda a estrutura. Após as soluções, a linha é alimentada com água até
que o resultado final seja 100% água (enxágue), para depois poder processar os
ingredientes para a próxima produção (lembrando de descartar os primeiros
produtos, que saem “aguados”).
A
implementação, manutenção e funcionamento de um sistema CIP requerem
inúmeros controles (tanto automáticos quanto manuais) justamente para evitar
contato das soluções de limpeza e desinfecção com o produto em
processamento. Por isso que, quando nos deparamos com uma notícia desse tipo, o
problema geralmente está associado a uma única linha de produção e
provavelmente atrelado à falha humana.
Além
disso, como a produção nessas linhas é muito rápida, é comum que sejam
produzidos milhares de litros antes que o problema seja identificado, os quais
podem chegar a ser comercializados. Lembrando que as análises de
rotina nas empresas nem sempre são capazes de identificar a mistura de soluções
de limpeza em suas bebidas, já que isso não faz parte de seus objetivos.
Nesses casos, é importante que a empresa tenha um bom sistema
de rastreabilidade, para que seja capaz de identificar quais os lotes com problema
que devem ser recolhidos – o chamado recall.
Por
mais que uma concentração de 2,5% de NaOH possa parecer pouco, já é
suficiente para causar graves problemas de saúde. A soda de fato será
neutralizada pelos ácidos do estômago, mas até lá (boca, faringe, esôfago) o
estrago pode ser grande, causando queimaduras, irritação, ânsias
e/ou enjoos. Por isso,quem ingeriu as bebidas dos lotes
contaminados deve procurar ajuda médica imediatamente – além de, é claro,
procurar na justiça uma indenização por parte da empresa. E quem
comprou produtos, mas não chegou a consumir, deve comunicar à empresa para que,
no mínimo, efetue a troca.
Agora,
queria deixar aqui um desabafo. Como recém-formado e desempregado, eu percebo
uma grande desvalorização do profissional engenheiro de alimentos por parte do
mercado. Muitas empresas preferem contratar tecnólogos, agrônomos,
nutricionistas, veterinários, farmacêuticos, biólogos, químicos ou engenheiros
de outras especialidades (mecânicos, agrícolas, de produção, etc), como responsáveis
pelo processamento, segurança e qualidade de alimentos em suas indústrias. Não
desmerecendo essas profissões, mas em geral os mesmos não estão qualificados
para lidar com a complexidade de certas áreas da indústria de alimentos. Talvez
se essas empresas passassem a valorizar mais a nossa classe, não
teríamos que nos deparar, com tanta frequência, com notícias como as duas
acima.
*Correção:
existem alguns poucos produtos que empregam soda cáustica em parte de seu
processamento, como no descascamento de alguns vegetais e na produção de
extrato de levedura. Sempre com o cuidado de que não pode sobrar NaOH residual
no produto final.
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